Conversando com um amigo ontem, lembrei dessa vivência de oito anos atrás, quando usar a máscara não era o novo normal. E quis compartilhar com vocês aqui.
A segunda-feira teria tudo pra ser normal em Gramado.
O calor alertava a aproximação de chuva e mudança brusca de temperatura.
As ruas cheias e o trânsito complicado eram sinais claros da excelente alta temporada daquele mês de julho. Apenas uma coisa, no entanto, não estava normal naquele dia: a temperatura do meu corpo, que me fazia sentir em algum verão escaldante.
A febre de 38,5 não cedia…
Alarmada pelas constantes notícias da gripe A, tratei de conseguir uma consulta médica. Afinal, vários dos sintomas alardeados da temida doença no inverno gaúcho estavam presentes em mim.
Cautelosa – e exagerada – decidi sair de casa protegida como manda o figurino. Ou melhor, como orientam as campanhas do governo. De máscara – que, por sorte, eu ainda tinha anos após ter feito um workshop de grafitti. Resquícios da época em que peguei (e me apaguei) a um bofe dessa tribo… Sim, eu era dessas!
Não satisfeita com a máscara, resolvi proteger também os olhos. Afinal, dizem que a gente tem que proteger as membranas ou algo assim, né?
Não foi ao embarcar no carro verde limão fosforecente da minha amiga Tela Tomazeli que percebi as reações dos outros. Somente no desembarque, enquanto caminhava apressadamente rumo ao centro médico, é que notei os olhares em minha direção.
Atônitos.
Assustados.
Arregalados.
Debochados.
Mas o olhar de horror que a pessoa que saia do elevador me dirigiu acabou me obrigando a procurar por um espelho. E o que vi ma assustou também…
Lembra quando Michael Jackson usava máscara e óculos escuros?
Pois então… Digamos que eu era uma versão nada glamourosa e bem desfigurada dessa imagem aí.
Constatado isso, resolvi curtir meu dia de fama. Ou melhor, de inglória. Porque o temor imaginário associado à minha figura de máscara + óculos acabou se revelando um belo cartão VIP. Mal pisei no laboratório, e já estava fazendo o exame de sangue. Sobrou lugar ao meu lado pra sentar na sala de espera na clínica onde fui fazer o raio-x do pulmão.
Espera que, aliás, foi brevíssima!
Não sei por quê, mas tive a impressão que ninguém quis minha bela companhia por muito tempo nesse dia…
Mas por que eu não iria usá-la? Por que razão iria eu passar adiante a minha doença ou me expor a alguma outra doença se é possível evitar?
Nesse dia constatei algumas coisas.
Que no inverno do sul, a máscara é a nova camisinha. E que realmente é uma boa estratégia fazer do limão uma limonada. Com muito bom humor. Algum estilo. E consciência, claro!
Foto de Volodymyr Hryshchenko/Unplash
Texto escrito no inverno de 2012
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