Post atualizado em Novembro de 2020.
A força que Plutão simboliza é a da nossa natureza mais instintiva e indomada, e que está conectada com a força primordial que gera vida. A mesma que, obedecendo à irrevogável lei dos ciclos da vida e da natureza, destrói e regenera, finda e renova, transmuta.
São arquétipos de Plutão o impulso das forças incontroláveis e poderosas da natureza – a atômica. a nuclear, a vulcânica, a dos instintos primordiais e sexuais. Da catártica. Da destrutiva. Da regenerativa. Da catastrófica. Da eliminativa. Da transformativa. Da evolutiva. Do que compele, impele, consome, queima, purifica, desfigura, transfigura, transmuta, transforma. É o princípio do processo de nascimento, morte e ressurreição. Dos ciclos da vida. Da intensidade. Da profundidade. Do titânico. Do potente. Do atômico. Do maciço. Do purgatório. Do submundo em todas as formas e aspectos. Da queda e do retorno. Da destruição e regeneração. Do controle. Dos jogos de poder. Do misterioso. Do tabu. Da realidade instintiva sem filtros. De todo o tipo de final & recomeço. De toda profunda e visceral transformação. Dos mitos de Hades, Perséfone, Pan, Dionísio.
ASSOCIAÇÕES COM PLUTÃO
> O simbolismo de Plutão é associado ao deus mitológico Hades, o governante do submundo, do mundo dos mortos e de toda a riqueza invisível que jaz no inconsciente e no subsolo. Sua energia é visceral, subreptícia, a explosiva, catártica, intensa, vulcânica, atômica. Uma potência que quando encontra oposição ou resistência, não se deixa acuar. Devasta. Sempre em nome da perpetuação da vida.
> Pra compreender rapidinho, pense nas estações do ano e no que acontece com algumas árvores ao logo deste ciclo anual. Elas se desnudam totalmente de folhas e frutos, morrem simbolicamente, e depois voltam a florescer, em toda a sua exuberância e potência. Aliás, já imaginou que desastre seria se as árvores resolvessem ser apegadas às suas folhas já sem vida e se recusassem deixá-las cair no outono? Um colapso, não é mesmo? Da mesma forma, a força simbolizada por Plutão nos faz conscientes dos necessários finais & mortes – sejam ideias, conceitos, pensamentos, memórias, vínculos ou estruturas obsoletas.
> Plutão nos conecta ao transmutar característicos dos ciclos, o modus operandi da natureza e do mundo que nos cerca. É a morte de algo como conhecemos para dar lugar a alguma coisa nova e imprescindível para a evolução. Porque sem isso, a vida não se perpetua. Afinal, tudo aquilo que se esgota e estagna, acaba morto. E assim, se torna vazio de propósito e defasado na natureza. E necessita e deve ser substituído. Acredite: sempre, sempre mesmo, há algo novo para substituir o que findou. Porque esse é o modus operandi da vida, do universo, dos cosmos.
‘Vida é um processo cíclico e de constante transformação’
Dane Rudhyar
> A propósito, observe como toda jornada dos heróis em filmes e livros basicamente expressa esta lei irrevogável e inerente à vida que é desapegar/morrer – encontrar a verdade que dá força e poder – renascer a partir dela. Quer ver só? Em um determinado momento, o mundo do herói sofre uma mudança repentina (Urano) e cai em ruínas (Netuno). Ele, então, é obrigado a se recolher, a enfrentar seus medos e fraquezas e (re)encontrar a sua real potência (Plutão). E isso o transforma. Faz o herói renascer mais forte e estabelecer uma nova ordem na vida. Por isso amamos tanto sagas e histórias assim, pois, como diz Neil Gaiman, elas nos mostram que podemos derrotar os dragões. Sejam eles os de fora ou os nossos internos.
> Assim, associamos à Plutão os ciclos de morte e renascimento, a capacidade de transformação e transmutação (e, por isso, a alquimia, os magos e bruxos), o desapego, os finais irrevogáveis e também o luto necessário e obrigatório. A propósito, a associação simbólica deste planeta ao pagamento de débitos e taxas também pode ser visto no mito de Hades. Mais especificamente, em um dos ritos de morte.
> Uma moeda de ouro devia ser colocada na boca do morto, para que o defunto pudesse pagar seu acesso ao submundo. Se não pagasse, sua alma estaria condenada a perambular nas praias do Rio Estige, o divisor entre o mundo dos homens e o submundo. Ou seja, ficaria preso no limbo – nem lá, nem cá. Pois o luto que vivemos ao final de cada ciclo é o pagamento que fazemos a Hades. E por isso, imprescindível para o desapego. ara que possamos ir adiante de fato, sem ficar preso no limbo chamado apego.
> Sim, finais & mortes – sejam de ideias, conceitos, pensamentos, memórias – precisam de lamento por um período, sim. Pra então deixar ir. O que é imprescindível para a evolução da vida nossa e do planeta. Esse é o verdadeiro e maior poder que há na vida: abrir mão, desapegar de algo já moribundo antes que se torne tóxico, e transmutá-lo em vida.
> Por isso, jamais esqueça que o apego de qualquer forma, seja por medo, conforto ou qualquer outro sentimento, irá bloquear a expressão dessa energia, provocando uma verdadeira implosão atômica, que nos devasta, enfraquece o nosso poder pessoal e suga a nossa libido. E, pior ainda, que nos conduz a abuso do poder, controle, coerção, manipulação e destruição. Aproxima e nos torna servos do Lado Sombrio da Força. E essa força atômica quando mau direcionada cria problemas épicos. Especialmente, quando entra em jogo a vontade de ter poder e ao apego a ele. É aí que o mundo desaba. Lembra do anel ‘precious, my precious’ de O Senhor dos Anéis? Por aí. O resultado é sempre catastrófico. Porque ninguém tem estofo pra controlar/direcionar um poder que é da vida.
PS: todo arquétipo planetário carrega ambas modulações feminina e masculina, independente do gênero da deidade que lhe dá nome. E também pode se manifestar/expressar tanto de forma positiva como problemática.
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