
Era início da tarde de uma segunda-feira chuvosa…
O celular tocou e vi o nome de um amigo querido estampando a tela. Guilherme Atencio me ligava pra afetivamente me presentear com um ‘kit escritora’, como ele chamou o conjunto com dois sketchbooks, uma caneta de ponta finíssima e um lápis icônico no universo dos artistas!
Sim!
Eu estava diante do Blackwing 602, lápis com 80 anos e muitas histórias para contar – o que adoro fazer e é meu ofício, né?!
Reza a lenda que vários profissionais indicados a prêmios como Pulitzer, Oscar, Emmy, Grammy, entre muitos outros, fizeram e fazem uso deste mesmo instrumento de escrita para criar suas obras de arte.
Sim, isso mesmo.
Dizem que Vladimir Nabokov usou o Blackwing ao assinar o argumento adaptado de Lolita. Li que Truman Capote era colecionador e mantinha caixas e caixas do 602 em sua mesa de cabeceira. Há quem garanta que John Steinbeck teria usado 300 lápis Blackwing para escrever A Leste do Paraíso. E que o compositor Stephen Sondheim era inseparável do seu 602, que tinha como um fetiche. Quem também foi flagrado com um exemplar do icônico lápis em mãos foi Quincy Jones, o badalado produtor musical norte-americano.
Nos estúdios Disney, várias histórias indicam que o 602 era o queridinho dos animadores. Dizem que Freddie Moore desenhou muito Mickey Mouse com o Blackwing. Que Ollie Johnston criou o doce e carismático Bambi com esse lápis. E Shamus Culhane animou uma das mais famosas cenas de Branca de Neve e os Sete Anões com um exemplar do 602. E, ao morrer, em 1996, foi solenemente enterrado com um Blackwing na mão.
Como se tudo isso não bastasse, descubro no site The Blackwing Pages que personagens de seriados como A Feiticeira e Mad Men também exibem o Blackwing 602 em cena. E que os aficionados pelo icônico lápis vão de Igor Stravinsky a Faye Dunaway.
Uau!
Com o slogan “metade da pressão, o dobro da rapidez”, o Blackwing se tornou aclamado por sua escrita suave, ao ser criado por Eberhard Faber na década de 30. Sua fabricação foi descontinuada em 1998. Mas, em 2010, atendendo apelos, a empresa Cal Cedar Pencil voltou a produzir o icônico lápis, mantendo sua indefectível borracha retangular na ponta, e rebatizando-o Palomino Blackwing.
E pensar que é cercada por todas essas histórias e lendas que eu escrevo agora.
Por isso, só posso celebrar ter sido presenteada com um novo melhor amigo: o Blackwing 602. Um lápis que serviu como instrumento para a criação de aclamadas obras, que foi parceiro de trabalho de tantos nomes da cena artística nos últimos 80 anos. E, acima de tudo, delicioso de fazer o que mais me encanta: inventar, criar e contar histórias.
Obrigada, Guilherme!
Escrito em julho de 2015, no Dia do Amigo
