Post atualizado em Novembro de 2020.
A força que Netuno simboliza é a que transcende a mente e nos coloca em contato direto com o útero de toda a criação: a Alma do Mundo. O reino em que habita o amor místico compassivo, o extraordinário, a beleza cósmica, e a graça divina. E que acessamos através do sonhos e da imaginação pra trazer ao mundo aquilo cujo tempo chegou e deve ser manifestado.
São arquétipos de Netuno o impulso de transcender limites e barreiras e se espalhar, contaminar. Da dissolução de limites e estruturas, da separatividade e controle do ego em nome do coletivo, do todo. Do idealismo romântico. Da ilusão e da desilusão. Da ‘viagem’. Do sonho acordado. Do devaneio. Da distorção. Da confusão. Dos estados alterados de consciência. Das drogas. Da visão holística, integrada, do todo. Do princípio do intangível, do invisível, do extraordinário. Do esotérico. Do místico. Da compaixão. Da devoção. Do amor universal. Do espiritual. Da beleza transcendente. Da inspiração das musas. Da poesia e da arte. Dos símbolos, das metáforas, das imagens, das visões, dos sonhos. Do mar e do oceano. Dos rios. Dos córregos. Da névoa e da neblina. Das águas profundas do inconsciente coletivo. Da Alma Mundi. Do mito de Poseidon.
ASSOCIAÇÕES COM NETUNO
> O princípio arquetípico de Netuno nos remete às profundidades oceânicas do inconsciente coletivo, aos estados alterados de consciência, à fonte de toda a vida, ao grande útero de toda a criação e do amor místico, de onde flui graça, inspiração, amor universal, unidade e o extraordinário. Falar de Netuno, portanto, é falar da conexão com esse poder que transcende os cinco sentidos e a lógica, a mente, a razão. Um que é preciso experienciar e sentir pra compreender.
> Nesse útero de toda a criação está o reino onde as inspirações das musas aguardam adormecidas e latentes para se manifestar através dos sonhos e da imaginação, e ganhar forma via arte, prosa, verso, mitos, dança, música, fotografia, filmes, moda e outras linguagens que usam imagens e símbolos pra manifestar o que a mente não acessa.
> Dessa energia que transcende e remove qualquer obstáculo que interfira na união íntima com o cosmos, com o todo, que surge a fé inabalável que nos faz acreditar nas visões uraninas e, nos sonhos netunianos, no que ainda não é possível ver, apenas imaginar. O que me lembra essa frase do filme Sob o Sol da Toscana: “Dizem que construíram os trilhos do trem sobre os alpes antes mesmo de existir um trem que fizesse a viagem. … Eles sabiam que um dia o trem viria”
> Netuno, o oitavo planeta do sistema solar, é envolto por uma ‘nuvem’ de gás que não permite que se enxergue seu solo. Este fato somado à sua cor, um azul esfumaçado, lembra o mar envolto pela bruma. E é exatamente o simbolismo do mítico deus dos mares, Netuno – ou Poseidon para os gregos – que nos dá referências desse arquétipo. Quando Zeus (Júpiter) assumiu o comando do Olimpo, dividiu a soberania do mundo com seus dois irmãos. Enquanto ele apoderou-se de céus e terra, a Hades (Plutão) coube o submundo, o reino dos mortos. E Poseidon ficou com os mares.
> A água com sua fluidez é o símbolo universal da intuição, da energia psíquica, das forças que habitam o inconsciente e fecundam a vida. Do que dá significado à jornada. Do reino da alma, portanto, não temos controle algum. Da alma, portanto. Assim sendo, os oceanos e mares, essa soma das águas que Netuno rege, representam as profundezas do inconsciente coletivo, da Alma Mundi, e das forças que fecundam e dão significado a esse todo maior que estamos inseridos. É a nossa capacidade de dialogar com a alma coletiva do Mundo, sonhando seus anseios, a fim de manifestá-los e concretizá-los e torná-los realidade depois.
> Diz o mito que Netuno provocava tremores de terra (por isso associamos ele a terremotos) para punir seus desafetos. Na simbologia arquetípica, os terremotos surgem para destruir as muralhas de artificialismo, dogmas, conceitos e falsos valores (as ilusões que nos seduzem) e que escondem e abafam a expressão da nossa essência e impedem a expressão autêntica da nossa força solar, conforme o acordo que temos com a Vida.
> Outra característica do mito que nos dá pistas da simbologia de Netuno é que esse deus recorria à bruma e ao som hipnótico das sereias para fazer com que seus inimigos se perdessem no caminho. Ou seja, criava dispersão e ilusões. Sim, essa conexão também gera dispersão e ilusórias seduções que nos fazem perder o rumo E que, tal qual a carta da Torre no Tarô, serão postas abaixo por terremotos pra que possamos outra vez conectar com o que nunca muda, rui ou desaba. Com o que permanece no centro da roda, independente do seu giro: a nossa essência divina, a parte que nos une a todas as demais almas nesse mundo.
“Você não é uma gota no oceano. Você é um oceano inteiro numa gota”
Rumi.
PS: todo arquétipo planetário carrega ambas modulações feminina e masculina, independente do gênero da deidade que lhe dá nome. E também pode se manifestar/expressar tanto de forma positiva como problemática.
Imagem: Sharon McCutcheon/Unsplash