Oi pessoal! Enquanto o livro vai sendo preparado e editado com carinho pela Buqui, quero compartilhar trechos de Num Sofá de Bolinhas – Amor & Terapia com vocês aqui. Toda sexta-feira, por nove semanas, postarei um novo drop de Babi aqui pra vocês! Boa leitura!
CHORANDO & CANTANDO #1
Tranquei a porta do apartamento ao entardecer gelado do final de maio em Porto Alegre, ansiosa com o que eu encontraria, com a forma como a noite se encerraria. Maquiada, perfumada, escovada e montada no salto, eu não tinha dúvidas de que as próximas horas seriam perfeitas. Não, mais do que isso. Incríveis! Um sentimento que pouco tinha a ver com a premiação que Maria Fernanda, minha melhor amiga, receberia naquela noite.
A excitação que latejava em meus poros era pura antecipação pelo encontro que eu teria com o meu destino, e que selaria o meu final feliz. Em minha euforia, esqueci de uma lei bem simples do universo: nem sempre, ou melhor, quase nunca, a vida entrega os desejos nossos exatamente como pedimos.
Em menos de 60 minutos, o clima da noite se transformou radicalmente e a última coisa na qual eu consigo pensar agora é no tal evento. Sequer me preocupo com minha amiga que, a essas alturas, deve estar tensa diante do meu sumiço e absoluto silêncio. Tampouco consigo escrever uma mensagem para Fer. Neste exato momento, sou incapaz de pensar ou fazer qualquer coisa.
Permaneço dentro do carro, ouvindo Aretha Franklin cantar outra e outra vez uma canção que só me faz querer extravasar toda a tristeza que sinto, chorar todas as lágrimas que tenho e esvaziar a dor que comprime meu peito. E é o que faço. Choro, lamento e sofro, enquanto canto Ain’t No Way com Aretha.
Não há como eu te amar
Se você não me deixar
Se você não me deixar te dar tudo de mim
A lembrança do que quase vivi e perdi retorna e um calafrio percorre todo o corpo. Os soluços irrompem intensamente outra vez, me desestabilizando de tal forma, que todo o meu corpo volta a tremer tanto, que até meus dentes batem na boca. Apoio a cabeça na direção do Mini e, abraçada a ela, soluço copiosamente e esvazio a dor, me entregando de vez a ela.
Mas como eu posso, como eu posso te dar
Te dar tudo que eu posso
Se você está amarrando as minhas duas mãos?
Sou arrancada deste transe ao ouvir uma forte e insistente batida na janela ao meu lado. Ajusto a postura e quando viro para a janela, encontro o olhar curiosa e consternado do frentista do posto onde parei para abastecer meu carro, quase uma hora atrás. Constrangida pelo espetáculo que dou no estacionamento da lojinha de conveniência junto ao posto, abaixo o vidro e ouço o rapaz me perguntar:
– Está tudo bem? A senhora precisa de ajuda?
Mordo o lábio inferior tão apertado, na tentativa de conter uma nova onda de choro diante da atenção recebida, que quase sangra. Estou muito sensível e fragilizada mesmo. Passo desajeitadamente as mãos sob os olhos, enxugando as bochechas. Envergonhada, sussurro:
– Sim, está tudo bem…
Aperto os lábios, sem conseguir mais conter o calor úmido das lágrimas. Antes que eu irrompa outra vez em choro desesperado, murmuro um desajeitado muito obrigada e dou partida no carro.
O curto trajeto entre o posto e meu apartamento é percorrido aos prantos e tudo que mais desejo é o calor da minha cama. Quando estaciono na garagem, todo meu corpo ainda treme. Viro o retrovisor em minha direção e a dor que sinto está refletida no rosto que vejo no espelho.
Estou desgrenhada.
O elaborado penteado que prendia meus longos e fartos fios castanho-aloirados despencou, e a maquiagem desandou como o meu sonho, borrando todo o rosto. Os olhos, normalmente castanhos amendoados, são agora de um verde intenso e escuro, amargos como bile e inchados pelo meu desespero. O nariz, entupido por minha tristeza, escorre.
Se minha mãe me visse agora.
Com certeza, me repreenderia por tamanho descontrole e descompostura na rua. Mas, com certeza, exultaria ao saber a decisão que causou tudo isso. Ai, Jesus, por que pensar em Dona Adriane e seus comentários ácidos em um momento como esse?
Pra que aumentar o desconforto?
‘Faça-se o favor, Babi’.
Suspiro profundamente e meus ombros desabam de vez. Agarro a bolsa, deixo o carro, aciono o alarme e caminho rapidamente em direção ao elevador, torcendo para não encontrar nenhum vizinho. A última coisa que quero é lidar com a curiosidade e a bisbilhotice alheia. Estou uma bagunça tão grande quanto os meus sentimentos.
Suspiro aliviada ao chegar à porta do apartamento, sem que nenhum olhar curioso ou condescendente tenha recaído sobre a bagunça que sou agora. Assim entro e que bato a pesada porta de madeira atrás de mim e sinto, todo o meu corpo volta a tremer, sacudido pelo pranto e por soluços ruidosos. Jogo os sapatos e o casaco longe, atiro a bolsa no sofá e desabo sobre o tapete, envolvendo as pernas em um abraço como se nele eu fosse encontrar o conforto que anseio.
Me recosto no sofá e ali permaneço.
Como seria bom dar um control Z, voltar atrás e reescrever momentos de nossas vidas cujas escolhas não apenas moldam um indesejado presente, mas também nos mantém atados a um passado imperfeito e prisioneiros de um futuro condicionado a um pretérito nada perfeito.

ATUALIZAÇÃO DA BABI!
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