A conversa fluiu sem dificuldade e se revelou divertida e inteligente, como ambos gostavam. Os respectivos amigos foram esquecidos, pois não havia mais nada que lhes interessasse. Tanto que, sem muita demora, foram embora. E o papo seguiu animado, regado por clericot para ela e sucessivos copos de chope para ele.
Foram os últimos a deixar o bar, por volta de três horas madrugada.
Não sem trocar telefones e combinar um novo encontro no dia seguinte.
E, assim, a rotina de encontros em bares e restaurantes badalados de Porto Alegre foi se repetindo dia após dia ao longo da semana. A cada novo dia, mais empolgados e enamorados os dois iam ficando. E logo os dois estavam trocando saliva, fluídos e juras de amor nas madrugadas tórridas daquele verão.
Mas então, o domingo chegou, data em que Letícia partiria de volta para Fortaleza. Eduardo acompanhou a bela ao aeroporto e lá, pensando no quanto não queria repetir o erro do passado, decidiu seguir sem racionalizar e se jogar no que sua alma pedia. E fez uma promessa apaixonada à advogada:
– Não vai se passar um único mês sem que estejamos juntos… Sem que a gente se veja, se toque, se beije, se ame.
Promessa que, para surpresa e alegria de Letícia, ele cumpriu.
Durante dez longos meses. Eduardo e Letícia se revezavam em idas e vindas entre Porto Alegre e a capital cearense. Acumularam dezenas de passeios na orla do Guaíba e jantares à beira-mar de Fortaleza. Tardes de sol e caminhadas no Parcão e dias de preguiça na Praia do Futuro. Finais de semana em Gramado e sábados e domingos de descobertas no litoral do sol nascente e em Jericoacoara.
Ao final do décimo mês, Eduardo chegou à conclusão de que era preciso tomar uma decisão.
Iria pedir transferência para a companhia para a unidade nordestina, alegando razões pessoais. Assim, conseguir realizar o sonho de ficar perto de sua amada. E se não desse, iria radicalizar: pediria demissão e tentaria uma nova colocação. E foi então, que o destino – ou Dona Claudina com suas orações – resolveu dar uma ajudinha providencial à dupla.
No momento em que entrou na sala da direção da empresa em São Paulo, naquela quarta-feira de eclipse no Brasil, Eduardo foi recebido por uma tentadora proposta: assumir o comando da nova planta da companhia, no interior da Bahia. “Perfeito!”, pensou o engenheiro. Afinal, ele conseguiria ficar mais próximo de sua amada e sem abrir mão da carreira, na qual havia investido tanto tempo. Topou no ato.
Naquele mesmo e exato momento, Letícia aceitava a transferência para o interior de São Paulo, pedido que fizera um ano antes, no auge do desespero do seu coração partido. Animada com a redução da distância entre ela e seu amor, a procuradora não titubeou. E tratou de assinar a papelada.
Quando comunicaram suas respectivas decisões uma ao outro, os dois ficaram arrasados. Na ânsia de estarem mais próximos e brindarem a metade da laranja com uma deliciosa surpresa, eles acabaram criando uma nova separação.
A essas alturas, você deve estar pensando: mas que raios de ajuda providencial foi essa que jogou cada apaixonado em um lugar diferente do país?
Arrasado, Eduardo foi para um bar na Nova Faria Lima, que reunia muita gente nos finais de tarde em São Paulo. Pediu um chope. Depois mais um. Um terceiro.
Lá pelo décimo copo, sentiu uma mão em seu ombro. Olhou para trás e viu Aline, sua ex-mulher.
– Oi, Edu. Quanto tempo! – disse ela.
Ele não conseguia acreditar. Havia alguma forma do dia ficar pior?
Reencontrar a chata da ex-mulher justamente hoje era tudo o que ele não precisava naquele momento.
Continua na próxima quinta-feira.
Imagem: Kevin Cloney/Unplash
Essa história, escrita lá em 2004, estava guardada numa pasta. Dei uma atualizada e resolvi compartilhar aqui com vocês pra brincar com a ideia da mudança. Com as possibilidades que a vida nos apresenta.
Assine a minha lista e receba Drops de Inspiração no seu email uma vez por semana. Ideias, palavras, textos & links legais para te inspirar, encorajar ou entreter! Quer receber? Preencha seu email abaixo, assine a lista e pronto!