Em tempos em que a única certeza é a incerteza, cresce o caos e o tumulto dentro e fora das pessoas, que se sentem perdidas, sem norte, sem rumo.
Exatamente como Letícia se sentia naquele início de ano.
Para ela, 2002 havia se iniciado repleto de incertezas. E isso a abalava, profundamente.
Aos 28 anos, a advogada cearense desfilava elegância e classe, e era referência nos tribunais e justiça cearense, onde era procuradora Federal.
Profissionalmente, ela arrasava. Porém quando o assunto era o coração, a situação não era bem assim… A mulher parecia ter ímã para trastes: os problemáticos, os interesseiros, os tipinhos mau-caráter, os quase separados (mas não efetivamente) e, claro, os inseguros – e tem coisa pior que homem inseguro nesse mundo?
Amor complicado era com ela.
Com o passar do tempo, Letícia foi ficando desesperada, o que a levou a entrar em várias ciladas, tentando de tudo um pouco: passe em centro espírita, oferecer flores e perfumes para Iemanjá, banhos de descarga por semanas a fio, acender velas dos mais diversos tamanhos para todos os santos nas igrejas, e até mesmo, num ato desesperado, retiro.
Nada, absolutamente nada, parecia adiantar.
A cada novo romance, o final era o mesmo.
Letícia acabava, aos prantos, chorando suas pitangas e dores de amores no colo de Dona Claudina, uma sábia e experiente senhora de seus sessenta e tantos anos, que tornara uma espécie de conselheira de todas as garotas da turma.
Dona Claudina já estava com os cabelos em pé! Não sabia mais o que aconselhar à desesperada Letícia.
A pobre advogada estava um caco desde as vésperas do Natal, quando descobrira que seu ex-namorado da adolescência, com quem estava novamente se relacionando, lhe mentira. Além de muito bem casado com a filha de um prestigiado senador, com quem tinha filhos, jamais cogitara separar-se, de fato.
Pior foi ficar sabendo tudo, tudinho, pelos jornais. E, ao intimar o mentiroso, ouvi-lo dizer na maior cara de pau:
– Eu nunca lhe prometi nada.
Todos os dias, sem faltar um único, Letícia deixava a procuradoria e se dirigia para a casa de Dona Claudina, em busca de conforto. E lá permanecia, horas a fio, até a noite cair, chorando, chorando e chorando.
Já prestes a enlouquecer de tanto choro ouvir e tanta pena sentir de sua protegida, Dona Claudina resolveu tomar uma atitude mais drástica.
Naquele primeiro do ano, iria fazer um pedido – uma promessa – para alguém muito especial. Olhou, então, para a imagem do Sagrado Coração de Jesus na folhinha já gasta pelo tempo pendurada na parede há anos. E caindo de joelhos à frente dela, conclamou:
– Meu Sagrado Coração de Jesus! O Senhor, que nunca deixou de me atender, por favor, me ajude novamente! Ajude essa menina a se acalmar e encontrar um amor de verdade. Eu vou saber lhe agradecer…
Ao final, enquanto orava uma Ave Maria, ouviu uma palavra sendo sussurrada em sua mente.
Imediatamente, levantou-se e, para que tivesse a certeza de que o seu pedido seria atendido, escreveu em letras tortas num pedaço de papel o que acabara de ouvir: TERAPIA. Feito isso, pendurou junto com a folhinha do Sagrado Coração.
Dona Claudina era uma mulher de muita fé. Estava confiante. Convicta.
Seria atendida.
Continua na próxima quinta-feira.
Imagem: Sabina Ciesielska/Unplash
Ah, essa história, escrita lá em 2004, estava guardada numa pasta. Dei uma atualizada e resolvi compartilhar aqui com vocês pra brincar com a ideia da mudança. Com as possibilidades que a vida nos apresenta. 😉
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