– Queria ter escrito uma carta, mas achei que ficaria muito impessoal…
Assim começo a conversa derradeira com Ano Velho, antigo crush e em breve ex.
Olho para o lado e vejo o esboço de um sorriso em seus lábios.
Suspiro aliviada por minha decisão de falar cara a cara.
Sim. Seria impessoal demais depois de tudo que vivemos tão intensamente nesses 365 dias…
Sentado ao meu lado na margens à beira do Guaíba, Ano Velho fecha os olhos e pousa suas mãos sobre a grama desbotada e retorcida pela falta de chuva dos últimos dias. Aquela terra seca parece ser o que ainda nos conectada um ao outro nesse momento…
Ele fecha os olhos e eu também.
E mergulhamos num silêncio que não é desconfortável, de maneira alguma.
É pacífico. É cúmplice. É amoroso. É sagrado.
Inspiro fundo, abro os olhos e viro pra ele.
Vejo suas formas definidas sob a camiseta coral justa, que tanto me encantou e seduziu um ano atrás. Ela parece mais desbotada, gasta e até percebo um furinho nela. E lembro exatamente como e quando ele aconteceu…
Fecho os olhos, outra vez.
Agora, pra guardar essa sua imagem na minha memória. Porque logo, loguinho mesmo, ele não será mais presença ao meu lado, mas apenas uma lembrança na minha memória.
E nesse momento, uma ternura infinita me toma.
E é tanto carinho, tanta alegria, e tanta gratidão, que transborda meu peito. Vai ocupando o chacra cardíaco, se esparramando e subindo… Atravessa a garganta, se derramando boca afora e saltando aos olhos.
– Ah, querido! Que relação linda tivemos – disparo a falar, emocionada – Com alegrias & perrenhas. Dramas & diversão. Choro.. Meu, principalmente. E risadas. Deslumbramentos & decepções.
Prendo a respiração por um instante, com as imagens de tudo o que vivemos rodando em minha mente.
– Tu me ajudaste a crescer! Principalmente teres me apresentado aos mestres que me ensinaram a ver a beleza oculta que há também na decepção, na dor, na perda…
Abro os olhos e me viro pra vê-lo me fitando, espelhando em seu olhar toda ternura e carinho que sinto. Sorrindo, ele estende os braços e segura minhas mãos. A essas alturas, sensível que sou, sinto o calor das lágrimas desenhando uma trilha morna em minhas bochechas.
– Só agora, nessa nossa reta final, entendi o que me dizias desde o início. Que pra compensar e até diminuir a escuridão no mundo, primeiro é preciso se tornar consciente da luz e também da escuridão que há em cada ser humano. Em cada de um de nós. Em mim, portanto. Só assim posso mudar o que tanto anseio mudar.
Ele larga minha mãos, segura meu rosto com carinho e seca minhas lágrimas com os polegares.
– Obrigada, por tudo – digo, num suspiro – Por me ajudar a vencer a Resistência, ainda que seja uma batalha diária, tipo um AA…
– Você quem conquistou isso, mulher – me interrompe Ano Velho – Batalhou, foi atrás, foi lá e fez! – diz, com firmeza – Eu só ajudei lhe aproximando mais e mais dos mestres e orientações que você ia encontrando no caminho.
– Obrigada – sussurro, aproveitando pra desembuchar o que ainda falta dizer- E se te decepcionei, abandonando e deixando pra trás algo que te prometi, desculpa. Foi mal aí!
– Eu sei, Acredito em você – responde ele, me encarando com ternura – Assim como também acredito que, agora que você sabe, que tem consciência de que há anseios que brotam na alma para o bem não apenas seu, mas também do coletivo, você fará diferente e a diferença nos próximos 366 dias
Ele então me abraça, e sussurra.
– Foi bacana, né Lila?
– Foi show, querido!
E assim, abraçados e com o coração em paz, com a certeza de que não há esqueletos abandonados no nosso armário/closet compartilhado, sob os raios dourados do entardecer (a tal golden hour) nos despedimos.
Adeus, querido Ano Velho!
AGORA É A SUA VEZ!
Como você contaria essa história? Viaje, crie e conte pra mim!
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