Há muito mais coisas entre o câncer de mama e a Terra do que supõe nossa pouca compreensão e imenso medo desta doença.
Esta minha constatação é fruto de um diálogo honesto e corajoso que tive com a educadora e empresária Maria da Graça Flach. A Chica, como carinhosamente todos chamam minha ex-professora de Inglês e uma das mestras incríveis que encontrei na vida, passou pelo segundo diagnóstico de câncer e viveu uma mastectomia recentemente.
Nossa conversa em tarde de tempo fechado, e com relâmpagos no horizonte, me trouxe lampejos e reflexões que compartilharei.
Pra começar, vou falar sobre prevenção e a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama. Um dos alertas que Chica faz é a importância de conhecermos nosso próprio organismo e suas reações. Afinal, foi isso que lhe permitiu identificar precocemente a doença, ambas as vezes.
– Tive o insight de que algo não estava bem e que precisava fazer os exames. Graças a isso, por ter ido muito cedo pesquisar, detectei os três tumores, que não estavam visíveis no exame comum (a mamografia) e nem eram palpáveis – conta
Outro questionamento que Chica levanta vai direto a um ponto que muito discuto por aqui: com o que você tem alimentado seu corpo? Física, mental e emocionalmente?
– Até que ponto estamos alimentando o corpo com o que ele precisa? – questiona
A empresária também defende com veemência que os exames de mama sejam integrados à rotina de check-up feminino já em torno dos 20 anos. Primeiro, porque há vários casos de mulheres nessa faixa etária que se descobrem com câncer, sem que tenham histórico familiar algum. Segundo, porque a mulheres estão iniciando a vida sexual mais cedo, começando a usar anticoncepcional na faixa dos 13 anos.
HIGH TECH, HIGH TOUCH
Também os relacionamentos devem ser alvo de atenção, seja na prevenção, ou na fase de tratamento. A relação entre médico e paciente, por exemplo, deve ser franca, corajosa e de acolhimento. Sim, é preciso expor as incertezas. de ambos Ouvir o paciente e ver o que ele precisa. Conhecê-lo. Respeitar o seu momento, suas fragilidades. E nunca, nunca, esconder a real situação. Até porque, tanto Chica como outras amigas que vivem um tratamento de câncer são unânimes em afirmar que é fácil perceber quando os médicos estão ocultando algo.
Muitas vezes, contam elas, as pessoas dizem que tu vais superar, mas agem de forma bem diferente. Elas disfarçam esse sentimento para o doente, mas acham que eles não percebem o que está ocorrendo. O olhar que foge para não revelar a incerteza e o sorriso que encobre a preocupação. Junto com toda a alta tecnologia e tratamentos de ponta disponíveis hoje, é preciso buscar também excelência no manejo emocional. High tech, sim. Mas high touch também.
Escrito no Outubro Rosa de 2014.
PS: As imagens que ilustram este post integraram uma campanha incrível de conscientização ao câncer de mama desenvolvida pela agência DDB Maputo, de Moçambique, para a Associação da Luta Contra o Câncer (ALCC) em 2011. Nela, heroínas como Mulher Maravilha e a vilã Mulher Gato fazendo o autoexame da mama. “Quando falamos em câncer de mama não há mulheres ou SuperMulheres”, reforça a legenda para as ilustrações criadas por Maisa Chaves.
Aliás, você sabia que o Outubro Rosa foi instituído nos Estados Unidos na década de 80? Tudo começou quando a fundação Susan G. Komen Breast Cancer Foundation, dedicada à erradicação do câncer de mama, organizou a primeira Corrida pela Cura em Dallas, nos Estados Unidos. O ano era 1983 e a corrida teve 800 participantes. Três anos depois, Outubro foi instituído como mês nacional de conscientização do câncer de mama nos Estados Unidos. Em 1991, a fundação distribui o lacinho rosa pela primeira vez a todos os participantes da Corrida pela Cura de New York. A partir de então, o laço passou a ser distribuído em outros eventos e lugares e se tornou o símbolo universal da conscientização e luta contra o câncer de mama.